SÍNTESE DO DNA DO CARMELO,
ELABORADA POR FREI FRANCISCO SALES
1. Peregrinação.
Os primeiros Carmelitas são peregrinos, homens inconformados com um modelo de viver a fé que, movidos pelo desejo de seguir a Jesus de forma mais radical, buscam na Terra Santa, o Santo da Terra. Constroem o novo, aventuram-se para garantir a autenticidade de sua fé. O Carmelita é por natureza um inquieto, peregrino, inconformado com a mesmice da fé e da história, aventureiro do Absoluto.
2 Grupo.
No Carmelo na há um líder carismático, um fundador no estrito senso da Palavra. Há um grupo que, movido por um desejo comum de fidelidade ao Evangelho, encontram-se e constroem um modo de vida. Para o Carmelita, a razão da vida tem sua fonte numa comunidade e está necessariamente direcionada para a construção da fraternidade.
3. Corações famintos.
Nós não conhecemos os nomes dos primeiros Carmelitas, mas podemos conhecer seus corações marcados por uma fome. Foram marcados por uma profunda experiência de conversão, saíram do bulício das cidades para viverem na solidão, iniciando uma vida juntos com o intuito de responderem à fome profunda de seus corações.
4. Monte Carmelo.
O caminho Carmelita passa necessariamente pelo monte, com todos os significados que a espiritualidade bíblica a ele atribui. É o lugar da parada dos peregrinos, da subida, da jornada para a comunhão com o Senhor, etc. O Monte confere ao grupo um nome, uma identidade, uma terra. Eles irão levá-lo a todos os recantos por onde se espalham, fazendo se suas habitações outros carmelos, lugares evocativos da aventura inicial.
5. Fonte de Elias.
O ponto de parada dos primeiros Carmelitas é a fonte do Profeta, marco memorial dos grandes feitos de Elias. Ao redor da fonte saciam aquela sede mais intensa e, à imitação de Elias, deixam-se consumir de ardente zelo pelo Senhor Deus dos Exércitos.
6. Celas.
Espaço de solidão e de cultivo da intimidade e do encontro com Deus, chão, no qual se nutre a vida através da lectio divina, lugar de luta contra toda forma de escravidão da pessoa e da conquista da liberdade interior.
7. Oratório.
Centro de convergência da vida, lugar celebração do louvor comum que transforma a vida em sacramento da presença de Deus. Espaço para a celebração da Eucaristia, do encontro com o Cristo vivo e presente na presente no Pão partilhado que se transforma em ponto gravitacional de toda a existência.
8. A Senhora do Lugar.
O oratório é consagrado à Virgem Maria e à Senhora eles próprios se consagram. No coração da visão carmelita está Maria, como força de inspiração a quem eles chamam irmã e na qual contemplam como em figura, realizado todo seu desejo de fidelidade ao projeto de Jesus.
9 Um ritmo que orienta a vida.
Viviam em um local aprazível e solitário; distantes o suficiente uns dos outros; dedicavam o seu tempo à oração e reflexão; liam as Escrituras e procuravam marcar com suas linhas os seus corações; jejuavam; trabalhavam e marcavam suas vidas ao compasso do silêncio; reuniam-se diariamente para a eucaristia e semanalmente para revisar a vida à luz do propósito comum; viviam uma vida de pobreza; seu líder era eleito e morava à porta da habitação comum; acolhiam e serviam àqueles que batiam a sua porta. A vida no Monte Carmelo centrava suas vidas dispersas e apaziguava suas mentes confusas, libertando os seus corações das urgências e compulsões do tempo. Viveram quase 100 anos neste rítimo de vida.
10 A Norma de Vida.
A vida vivida foi codificada numa Regra que se transforma no referencial permanente, na Fonte que contém as indicações concretas para a fidelidade, sempre aberta para aqueles que fizerem mais. Mais do que normativa, a Regra é um elemento carismático, indicativo e dinâmico.
11. Viagem de volta.
Diante das dificuldades e perseguições, os carmelitas fizeram a viagem de volta, transfigurados. Deixaram o Carmelo, mas o Carmelo nunca mais os deixou, forjaram uma nova visão do Carmelo, como referencial espiritual de suas vidas. O Carmelita é aquele que, uma vez bebendo da fonte, é capaz de refazer o caminho de volta e recontar a própria história a partir da experiência vivida.
12. Mendicância.
A dinâmica das Ordens Mendicantes é assimilada pelo Carmelo no contexto de sua chegada à Europa. Momento vivido com os conflitos próprios de toda mudança. A Regra é adaptada à nova realidade e mais uma nota é acrescida à sinfonia inicial do Carmelo, incorporando outros elementos, como a itinerância, a simplicidade de vida, o serviço ao povo de Deus nas realidades desafiadoras da cidades, a abertura ao inesperado, etc.
Estes referenciais estão como que impressos no coração de cada carmelita, fazem parte se nosso DNA espiritual, como arquétipos simbólicos do dom especial do Carmelo para a Igreja. Em cada contexto, como também no nosso, eles nos provocam continuamente em nossos desejos e impulsos de fidelidade, em nossos projetos e escolhas e nos ajudam, diante dos desafios com os quais nos confrontamos, a recriar o significado de nossa vida e de nossa presença na Igreja e no mundo, mantendo a fidelidade à nossa identidade fontal.
Faz-se necessário que leiamos estas verdades e referencias fontais a partir do concreto de nossa vida. As palavras, os símbolos e os arquétipos só adquirem significado, na medida que nos apropriamos deles e nos permitimos, a partir deles, ser questionados em nossa vivência e em nossas escolhas, confrontando-os e atualizando-os numa viva tensão, movimento constitutivo de nossa história e da dinâmica criativa da Ordem através dos séculos.
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