quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Elias e a experiência de Deus

SALVADOR, segunda-feira, 12 de setembro de 2011 (ZENIT.org) – A Bíblia, nos capítulos dezoito e dezenove do Primeiro Livro dos Reis, nos apresenta uma extraordinária experiência de Deus, tendo como protagonista o profeta Elias. O fato ali narrado ocorreu cerca de nove séculos antes da era cristã.

Elias não se conformava com o comportamento do povo escolhido, que havia abandonado o culto ao Deus verdadeiro para seguir as idéias dos profetas dos povos vizinhos, adoradores do deus Baal. Tendo percebido que, sem algum gesto dramático, não conseguiria levar seu próprio povo à conversão, propôs um desafio aos profetas de Baal: eles escolheriam um novilho, o preparariam para o sacrifício e o colocariam sobre a lenha, mas sem pôr fogo. Ele, por sua vez, faria o mesmo. Em seguida, cada um invocaria o nome de sua divindade: ela é que deveria acender o fogo, para que a oferta fosse queimada. Conforme a resposta obtida, saberiam do lado de quem estava o Deus verdadeiro.

Aceito o desafio, os seguidores de Baal dispuseram tudo de acordo com o que fora combinado e iniciaram as súplicas. Multiplicaram as orações e nada conseguiram. Vendo-os e escutando-os, Elias fez um comentário irônico: “Gritai mais alto, pois sendo deus, Baal pode estar ocupado. Quem sabe ausentou-se ou está de viagem; ou talvez esteja dormindo e seja preciso acordá-lo”. Os profetas de Baal passaram das súplicas aos gritos; em seguida, se autoferiram até o sangue escorrer. Nada conseguiram.

Ao chegar sua vez, Elias mandou que derramassem água tanto sobre a lenha como sobre a oferenda que preparara. Pediu, então, que Deus se manifestasse: “Ouve-me, Senhor, ouve-me, para que este povo reconheça que tu, Senhor, és Deus, e que és tu que convertes os seus corações”. A resposta foi imediata: veio fogo sobre o altar, consumindo a oferta, a lenha e as próprias pedras do altar. Tirando proveito de seu sucesso e querendo exterminar o mal pela raiz, Elias mandou que fossem degolados todos os profetas de Baal. Depois disso, foi ameaçado de morte e perseguido. Para piorar a situação, teve o desgosto de ver que, mesmo depois disso tudo, seu povo não se converteu ao Deus verdadeiro. Desanimado e com vontade de morrer, foi socorrido por um anjo e partiu em direção ao Monte Horeb. Ali fez a experiência de Deus a que me referi no início.

Sabendo que o Senhor passaria em seu caminho, o profeta o esperou, de pé. Viu então, sucessivamente, o desenrolar de vários fenômenos grandiosos. Ficou atento, pois Deus poderia se manifestar através deles. Mas Deus não estava nem no furacão violento, nem no terremoto, nem no fogo. Finalmente, ouviu-se o murmúrio de uma brisa suave. O Senhor estava nela.

Também hoje, em nossa vida, Deus se manifesta muitas vezes e de maneiras diferentes. Por vezes serve-se de acontecimentos extraordinários, como são os desequilíbrios da natureza, as grandes decepções, uma doença grave ou a morte de uma pessoa que nos é querida. Normalmente, porém, manifesta-se em nossa vida por meio de brisas suaves - isto é, de acontecimentos tão simples que não valorizamos; tão rotineiros que nem percebemos; tão frequentes que nem lhes damos valor. Contudo, cada passagem sua é especial, irrepetível e única.

O episódio envolvendo Elias nos ensina que é o Senhor que escolhe a maneira de se manifestar a nós. Mesmo assim, muitos preferem ir atrás de experiências exóticas ou envolvidas pelo misticismo superficial, já que elas não exigem qualquer mudança de vida. São preferidas as experiências que mais agradam aos sentidos e as que acalmam a consciência com pensamentos vagos e que, por isso mesmo, não geram nenhum compromisso ou responsabilidade. Sem perceber, imitam-se, hoje, os antigos pagãos, que costumavam criar deuses à sua própria imagem e semelhança – isto é, com as limitações e os defeitos humanos.

Enquanto isso, o Deus vivo e verdadeiro passa em nossos caminhos como uma brisa suave e amena, para possibilitar-nos experiências marcadas pelo amor, pela alegria e pela paz. Só O perceberemos se formos capazes de valorizar o sorriso de uma criança, a beleza de uma flor à beira do caminho ou a onda do mar que se desmancha na areia da praia.

Dom Murilo S.R. Krieger, scj, é arcebispo de São Salvador da Bahia

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Notícias da Congregação Geral dos Carmelitas Setembro de  2011
Conferência de Maria Dolores, España, sobre o olhar leigo a Vida Carmelitana
Na apresentação feita pelo P. Geral, ele destacou que a conferencista é uma mãe de família, tem dois filhos e, ultimamente adotou uma criança africana. Destacou que foi sua aluna de teologia (sendo a primeira e a última a qual ele acompanhou em numa tese de doutorado). A mesma prega retiros para os jesuítas e outros grupos religiosos. Tem alguns livros publicados, entre os quais o Cristo Nú. Aceitou com alegria dirigir este olhar sobre a Vida Religiosa e Carmelitana para nós nesta Congregação Geral.
Dolores iniciou dizendo que a sua conferência poderá não trazer tantas novidades para nós, mas a diferença consistia nisto: quem diz... por quê diz...de onde diz? A visão da VR que apresento é a de uma mulher, leiga e casada. Procurou dedicar toda 1ª. parte numa reflexão sobre a Esperança, sublinhando que a espera da VR não é qualquer espera. Nosso Senhor Jesus Cristo é o sentido da nossa esperança. Neste tempo de crise, o qual vivemos, esta virtude teologal ajuda muito a fortalecer e resistir a tudo aquilo que representa a contrapartida da esperança: o desânimo, a desconfiança do futuro, a perda de identidade, a alteração dos valores, a incapacidade de escolhas por onde ir, os sonhos não realizados, etc.
Destacou ainda que a unidade não é a união de simpatizantes, mas dentro de um realismo, procurar acolher a todos (os que pensam diferente de nós e, prinicipalmente, aqueles que são indiferentes). Temos que manter uma ponte comum com um público. Nem sempre é fácil romper os paradígmas com os quais estamos habituados a pensar.
O seu ponto mais alto foi aquele de acentuar a fonte da nossa esperança está no ressuscitado, que é o crucificado (as duas realidades juntas). Jesus saiu dos mortos. O momento especial de revelação do ser humano é a dor. Parece duro, mas entre as coisas que o cristão espera e deseja está a cruz. Difícil de entender, todavia precisamos crucificar nossas esperanças. O ícone da esperança cristã é o crucificado sorrindo. É triste para uma pessoa leiga ver religiosos revoltados quando lhes parece a cruz. Sem negar a dor: o valor de experimentar na carne o que viveu N. S. Jesus Cristo até a morte é um dom divino. Santa Tereza falava muito daqueles que não abraçam a cruz desde o início: acolher a possibilidade de experimentar com Ele, a cruz; aceitar tudo que a v ida nos traz; ter a honra de completar a cruz de Cristo.
Ela procurou também elucidar a visão de esperança de uma leiga para V. Religiosa: A Universalidade da Vida (A difusão universal do anúncio do ressuscitado; A vivência da profecia da fraternidade universal já presente na VR; o olhar estratégico da VR sobre o mundo, ou seja a disponibilidade e mobilidade física e espiritual; vida organizada; a imitação e o seguimento de Cristo. Aqui destacou que os relgiosos vivem mais perto de Jesus de Nazaré (lembrou que o Cristo total é bem maior que o Nazareno); A válida tradição (Jesus nunca disse que o que fazemos seria para sempre, mas sim sua presença; o religioso por si mesmo (mesmo que o religioso não faça nada, a sua presença tem valor por ser uma vida sustentada numa opção por Deus); escola de fraternidade em diálogo (união na diferença e comunhão que reconhece a dignidade de todos os membros). Vocação da VR é uma terra sagrada.
Notícias da Congregação Geral 2011 – ConGen.11, no 6º. Dia 09.09
Conferência de Michael Plattig, Germany, sobre o olhar de um confrade carmelita
            O moderador deste dia foi o P. Scerri e a apresentação do relator ficou por conta do Pe. Cristian – Vice Geral, que destacou os estudos carmelitanos feitos por Plattig (especialmente no seu 1º Doutorado em que abordou a Reforma Turonense e, no 2º aprofundou a Direção Espiritual num confronto com os Padres da Igreja e Karl Roger. Atualmente é Diretor e professor em Munster, mas também dar aulas em duas Universidades de Roma:Agostiniano e PUG, também é membro do Instituto Carmelitano.
Inicialmente descreveu que em 1Rs se encontra a atitude basilar da tradição carmelitana (o caráter relacional dos carmelitas consiste no estar diante de Deus). Hoje o caráter da relação com Deusé um risco. Aparentemente para alguns é fácil se relacionar com um poder anônimo, mas é só no face a face que podemos alcançar a liberdade, que consiste numa sadia relação. Estar em constante relação com Deus, dia e noite, é a melhor parte do ser carmelita (Miguel de Santo Agostinho). É importante ser ocupado no trabalho de Deus e na oração: esta é a tarefa da nossa Ordem na Igreja. Esta relação há formas, lugar e oportunidade. Elias é o modelo para os monges e 1º. Anacoreta. Nossa Regra foi influenciada por esta tradição mon� �stica. A cele era considerada um lugar de aprendizagem. Para nós a cela não é só um lugar, mas também uma atitude. O corpo é a cela e o eremita esta dentro. Em 1º Rs Javé não pode ser obrigado, Ele é agente ativo. Elias não é o ativo que influencia: não tem a necessidade de obrigar a manifestação. Nós encontramos Deus quando o encontramos. Deus não pode ser obrigado. Ele é encontrado quando quer se manifestar. Deus é livre. A liberdade de Deus é a liberdade do homem. Não se pode manipular Deus. Ele é quem decide, como, quando e onde nos encontrar.
Nesta relação a prática do silêncio é bastante importante, mas este sozinho não resolve. Na R. Carmelita o silêncio é baseado na fidelidade a Deus: o equilíbrio entre palavra e silêncio. Este é o objetivo: a união com Deus. Outro aspecto do silêncio é o respeito ao outro, saber descobri, respeitar (dar valor) o tempo de falar e calar. Outro aspecto da nossa espiritualidade foi o da Noite Escura: todo o percurso da nossa maturação apresenta obastáculos e dificuldades (crises) para passar a fases sucessivas. A sombra da alma é feita de pecados. Quanto mais luz, mais percebemos as imperfeições e as ilusões. Os autores carmelitas propõem o escuro como lugar da purificação. Não se pode crescer sem crises. Para o bem de Deus d evem morrer tantos ídolos, aparentes seguranças. A fé se baseia numa fidelidade incondicionada. O amor sem condiçoes. A fé implica numa luta com Deus: uma parte essencial da oração. É necessário contestar a Deus no sofrimento para haver uma resposta.
Entre muitos outros aspectos sublinhou a nossa relação com a Igreja: os carmelitas por tradição acentuam uma Igreja plural (comunidades responsáveis). As tarefas paroquiais e outras atividades apostólicas vêm depois. Algumas devemos deixar de lado. O termo católico não significa catolicismo romano. Nossas comunidades devem se distinguir pelo aspecto comunitário. A nossa pregação deve trazer um contéudo diferente dos outros (acentuar a relação com Deus não instruções morais ou ajudar a satisfazer necessidades dos fiéis).
Notícias da Congregação Geral 2011 – ConGen.11, no 7º. Dia 10.09
Relatórios dos Conselheiros Gerais das Regiões da Ordem
1.     Désiré Unen Alimange (RDC), Conselheiro para África, fez uma larga leitura sobre os alguns números das Constituições e da Ratio (n.19) para recordar seu trabalho como Conselheiro e o aspecto mais sublinhado em seu relatório: a formação. Nas 7 presenças (algumas delas bastante fragilizadas), destacou a seguinte estatística: 22 casas; 17 paróquias; 11 comunidades de formação; 81 sacerdotes; 26 frades de Profissão Solene; 69 de votos temporários; 17 noviços, totalizando 190 frades. Ainda completou com a indicação que temos hoje mais ou menos 26 postulantes. Outros aspectos: Delegação de Quênia (ereçaõ 16.07.10); Estratégia de consolidação das fundações; A fome e carestia; Diálogo com o bispo de Costa do Marfim e o Instituto de Esp. de Nairob.
2.    Albertus Herwanta (Indonésia),Conselheiro para Asia-Oceania< /span>, entre muitas questões apresentadas destacou: Na Ásia temos novas oportunidades; aprofundou as novas presenças (Papa Nova Guine e China); a esperança para o futuro da Ordem, devido as muitas vocações; olhando para o futuro o que fazer frente a estas oportunidades?Asia é um continente de 2⁄3 da população mundial e 83% não cristã. Há uma grande diversidade cultural, mas também um conjunto de injustiça social. O povo da Ásia é orgulhoso de seus valores. Como viver nosso carisma carmelita neste contexto em que a nossa presença é pequeníssima? Na Ásia católica muitos não são integrados na sociedade local mais pobre (as vezes identificados como colonizadores). Não queremos trair, mas interagir com a vida asiática. Temos o maior canteiro de vocações da ordem e somos o futuro da mesma, mas temos pouco poder seja na Ordem seja na Igreja.
3.    Raúl Maraví Cabrera (Peru), Conselheiro para as Américas, bastante didático sublinhou que seu relatório contemplaria apenas os dois últimos, ou seja, desde o último Conselho das Pro víncias em S. Felice. Destacou que nas Américas temos 3 áreas: Norte; Brasil e a América Espanhola (10 diferentes países que não possuem autonomia); Chamou atenção para discussão sobre Governo e Instituição da Ordem, principalmente a representatividade e participação. A necessidade de formar formadores (jovens que acompanham jovens e com pouca experiência) e aprendizagem de ao menos um outro idioma. Focalizou vários encontros vindouros, especialmente ALACAR e FOCAL – SP.
4.    Jonh Keating (Ireland), Conselheiro para Europa, referiu que seu relatório seria muito mais perspectivo do que das atividades realizadas. Dsatcou que seu empenho é largo: além de sua á rea gerográfica é também lieson do CISA, responsável pela Comissão de Formação, apoia o secretariado geral. Convidou a Com.Gen a refeltir sobre 3 pontos importantes: a) A crise de liderança em Europa; b) A derrocada de valores morais, políticos, religiosos e outros por meio de contínuos escândalos; c) Uma espécie de vazio nas pessoas: só na Espanha 20% de desemprego e na Inglaterra muitos desencantados.
É necessário: dirigir os problemas de modo adequado; falta de visão de futuro; o problema surge a nível local e tem consequências gerais; somos chamados agora a lavar os pés dos pobres: comunidades pequenas e sem mudanças. Temos ainda uma tarefa.