quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Carmelitas: contemplativos na ação

O profeta Elias apareceu e disse: “Vivo é o Senhor, em cuja presença estou!” (1Reis 17,1). E imediatamente ele foi até o rei Acab para transmitir-lhe a Palavra de Deus. Elias ouviu a Palavra e foi proclamá-la em forma de denúncia contra as injustiças do Rei (1Reis 17,1; 18,1-19; 21,17-24).
Maria disse: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lucas 1,38). E imediatamente ela se levantou e foi servir a Isabel. Maria ouviu a Palavra e foi colocá-la em prática em forma de serviço à sua prima Isabel que precisava de ajuda (Lucas 1,39-45).
Jesus disse: "Por mim mesmo nada posso fazer: eu julgo segundo o que ouço" (Jo 5,30). "O Filho por si mesmo nada pode fazer, mas só aquilo que vê o Pai fazer" (Jo 5,19). Como sua Mãe, Jesus escutava a Palavra de Deus e a colocava em prática (Lc 11,28). Não foi fácil. Ele teve momentos difíceis, em que gritava: “Afasta de mim este cálice!” (Mc 14,36). Teve que pedir a ajuda dos amigos (Mt 26,38.40). Teve que rezar muito para poder vencer (Hb 5,7-9; Lc 22,41-46). Mas venceu! Ele mesmo o confirma: “Eu venci o mundo!” (Jo 16,33). Deste modo, Jesus tornou-se para nós revelação e manifestação de Deus Pai: “Quem vê a mim vê o Pai”(Jo 14,9). Jesus é o rosto de Deus para nós.
Foi olhando o exemplo de Elias e de Maria, que os primeiros carmelitas lá no Monte Carmelo descobriram sua maneira própria de “viver em obséquio de Jesus Cristo”: ser contemplativos na ação.
De fato, como Carmelitas nós nascemos ao redor da Fonte do profeta Elias e da pequena capela de Santa Maria do Monte Carmelo. No alto do Monte, nossos primeiros irmãos produziam o mel da contemplação para irradiá-la e transformá-la em ação servindo ao povo de Deus. Inflamados pela meditação da Palavra, desciam do Monte para ir aos povoados anunciar a Boa Nova de Deus que Jesus nos trouxe. Imitando Jesus eles revelavam o rosto de Deus ao povo e atraíam outras pessoas para juntar-se a eles no mesmo serviço a Deus e ao povo de Deus. Da sua experiência de Deus, eles tiravam a luz para ajudar o povo a descobrir como rezar, como sentir-se bem diante de Deus, como tirar força da oração para poder enfrentar a vida, colocar-se do lado dos pobres “pela causa da verdade, da pobreza e da justiça” (Sl 45,5). Foi assim que nasceu a família Carmelitana!
Como nossos primeiros irmãos lá no Carmelo assim sempre se fez na família Carmelitana, desde sua mais remota origem: ser contemplativos na ação.
Quando aparecia um afrouxamento sempre surgiam frades, irmãs e leigos para retomar a inspiração inicial e chamar-nos de volta para a contemplação que gera ação, e para a ação que deve ser fruto da contemplação. Assim fizeram os grandes reformadores do Carmelo: Simão Stock, João Soreth, Batista Mantuano, Teresa de Ávila, João da Cruz, João de São Sansão e tantos outros.
E assim continua sendo até hoje na reforma que todos nós da Família Carmelitana tentamos realizar no Brasil: retomar a inspiração inicial para adaptar-nos aos apelos de Deus que vem da realidade dura e sofrida do nosso povo e da Boa Nova de Jesus, do profeta Elias, de Maria a Mãe de Jesus e dos primeiros Carmelitas lá do Monte Carmelo: ser contemplativos na ação.
Frei Carlos Mesters, O.Carm.

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