segunda-feira, 11 de abril de 2011

Olhar no espelho da vocação do profeta Elias


Olhar no espelho da vocação do profeta Elias
Saber achar o caminho para não perder o rumo da vocação
Elias já tinha realizado grandes coisas. Enfrentou sozinho o rei Acab e os 450 profetas do falso deus Baal. Mas teve um desânimo tão forte que perdeu a vontade de viver. Só queria comer, beber e dormir. Estava sem rumo, perdido, no meio do deserto, sozinho: “Quero morrer! Não sou melhor do que os outros!” Ele imaginava sua vocação de um jeito, e ela vinha a ele de outro jeito. Você já teve momentos assim? Como fez para reencontrar o caminho? Elias teve que passar por uma conversão dolorosa, mas conseguiu reencontrar a vocação e conseguiu transmiti-la para o profeta Eliseu. Você já se sentiu perdido alguma vez no discernimento da sua vocação? Neste subsídio você vai ver como Elias fez para reencontrar o caminho da sua vocação
Situando o chamado
Século VI aC. O povo está no cativeiro da Babilônia, desanimado e sem futuro. Ele tenta reler as grandes figuras do passado para encontrar nelas alguma luz para clarear a escuridão em que se encontrava e, assim, redescobrir sua vocação como Povo de Deus. Uma luz foi encontrada na meditação da vida e da história do Profeta Elias. Elias tinha vivido 300 anos antes, no século IX aC, no tempo do rei Acab e da rainha Jezabel.
As histórias do profeta Elias encontram-se nos livros dos Reis. São seis capítulos que parecem um álbum com seis grandes fotografias. São seis histórias bem populares, onde o povo olhava como num espelho para descobrir sua missão. No início, durante mais de 300 anos, estas histórias eram transmitidas oralmente de geração em geração, nas rodas de conversa e nas celebrações. Era para despertar a consciência do povo e provocar nos ouvintes a mesma ação de Elias em defesa da Aliança e da Vida. Cada capítulo traz um assunto bem determinado. Durante o desânimo do Cativeiro na Babilônia, eles olhavam não tanto o lado grandioso do profeta, mas sim o lado escondido da sua crise e desânimo (1Rs 19). O estado de depressão em que Elias ficou ao fugir diante da ameaça da rainha Jezabel era um espelho da situação deles mesmos lá no cativeiro e de muitos de nós.
1Rs 17:   A preparação do profeta. Sua ida para o outro lado do Jordão e o encontro com a viúva.  
1Rs 18:   A atuação no Monte Carmelo, onde defende a Aliança, enfrenta o Rei e os falsos profetas.
1Rs 19:   Ameaçado, Elias desanima, foge e quer morrer. Na Brisa Leve, ele reencontra Deus e a vocação
1Rs 21:   Elias e denuncia a injustiça, o roubo das terras, a manipulação da religião e o assassinato de Nabot.
2Rs 01:   Sentado no alto do Monte, ele combate os que não reconhecem o Deus da vida.
2Rs 02:  Arrebatado em Espírito, Elias deixa o seu espírito para Eliseu, que continua a missão de Elias
O chamado atinge o profeta Elias no meio do seu desânimo:
“Elias sentou-se debaixo de uma árvore e desejou a morte, dizendo: "Chega, Javé! Tira a minha vida, porque não sou melhor que meus pais". Deitou-se debaixo da árvore e dormiu. Então um anjo o tocou e lhe disse: "Levante-se e coma". Elias abriu os olhos e viu bem perto da cabeça um pão assado sobre pedras quentes, e uma jarra de água. Comeu, bebeu e deitou-se outra vez”. (1Rs 19,2-6)
Elias só quer comer, beber e dormir. Como muitos dos exilados na Babilônia, e como muitos de nós hoje, Elias tinha perdido o sentido da vida. O anjo voltou uma segunda vez e, finalmente, Elias desperta, reencontra a força e caminha, quarenta dias e quarenta noites, até chegar no Monte Horeb (1Rs 19,4-8), onde, séculos antes, naquele mesmo lugar, havia nascido o povo de Deus (Ex 19,1-8). Isto significa que Elias estava querendo voltar às raízes! Era esta a caminhada que o povo do cativeiro devia fazer: voltar às raízes para poder redescobrir sua vocação! Hoje existem muitos anjos e anjas a bater na porta do nosso coração para nos acordar e fazer assumir a vocação.
Os enganos que impedem conhecer o rumo da vocação
No Monte Horeb ou Sinái, Deus o interpela: “Elias, que fazes aqui?” Ele responde:
“Eu me consumo de zelo pela causa do Senhor, pois os filhos de Israel abandonaram a aliança, derrubaram os altares e mataram os profetas. Fiquei só eu e até a mim eles querem matar!” (1Rs 19,10.14).
Existe uma contradição entre o discurso e a prática. Conforme o discurso Elias pensa que é o único que sobrou para defender a Deus; mas na prática havia sete mil que não tinham dobrado o joelho diante de Baal (1Rs 19,18). Conforme o discurso Elias está cheio de zelo; mas a prática mostra um homem medroso que foge (1Rs 19,3). O olhar de Elias está perturbado por algum defeito que o impede de avaliar a situação com objetividade e de perceber a vocação de Deus. Não é que ele tenha perdido a fé, mas já não sabe como enfrentar a realidade nova com a fé antiga. Há algo de errado na imagem de Deus em Elias. Como descobrir os enganos que nos impedem de perceber a vocação de Deus? Qual a imagem de Deus que deveria estar hoje em nós para nos orientar? Esta era e continua sendo a pergunta fundamental. A resposta é dada na história da Brisa Suave.
Na “brisa suave” Deus ajuda a descobrir os enganos que desviam do rumo
Elias recebe a ordem: “Saia e fique no alto da montanha, diante de Javé, pois Javé vai passar!” (1Rs 19,11). Elias sai da gruta e se prepara para o encontro com Deus. Momento solene! No passado, naquela mesma Montanha Horeb ou Sinái, Deus manifestara sua presença no furacão, no terremoto e no fogo (Ex 19,16). Estes sinais tradicionais da presença de Deus eram os critérios que orientavam Elias na sua busca.
Mas acontece o inesperado: Deus já não está no furacão, nem no terremoto, nem mesmo no fogo. Parece até um refrão que chama a atenção: “Javé não estava no furacão!” – “Javé não estava no terremoto!” – “Javé não estava no fogo!” (1Rs 19,11-12) Os sinais tradicionais da presença de Deus eram lâmpadas apagadas. Bonitas para ver, mas sem luz! Deixaram Elias no escuro! Elias vivia no passado! Deus já não era como ele, Elias, e tantos outros no cativeiro o imaginavam e desejavam.
É a desintegração do mundo de Elias. Deus desapareceu! Espelho da desintegração da vida do povo no cativeiro depois que Nabucodonosor mandara destruir os sinais tradicionais da presença de Deus: o templo, o rei, a posse da terra. Caiu tudo! A imagem que Elias (o povo do cativeiro) tinha de Deus quebrou em mil pedaços. É o silêncio de Deus!
Na tradução da Bíblia, este silêncio é expresso com as palavras “murmúrio de uma brisa suave”. Literalmente, se diz: “voz de calmaria suave”. A palavra hebraica, usada para indicar a calmaria, vem da raiz DMH, que significa parar, ficar imóvel, emudecer. O “murmúrio de uma brisa suave”, que vem depois do furacão, do terremoto e do fogo, indica uma experiência repentina, que, como um golpe suave e inesperado, faz a pessoa ficar calada, cria nela um vazio e, assim, a dispõe para escutar. É um puxão de orelha, um tapa na cara! Mesmo dado com suavidade, não deixa de ser tapa! Tapa que desperta, quebra a ilusão irreal e faz a pessoa colocar o pé no chão. Eles pensavam que Deus não estivesse presente no cativeiro. Caiu a ficha! Descobriram que Deus estava presente no cativeiro, muito mais do que antes no Templo e na Monarquia!  A brisa suave obrigava Elias e o povo a uma conversão radical.
A resposta final de Elias, nossa resposta
Elias cobre o rosto com o manto (1Rs 19,13). Sinal de que tinha descoberto a presença de Deus naquilo que parecia ser a sua ausência! Despertou! Aprendeu a lição! A situação de derrota, de morte e de secularização em que se encontrava o povo no cativeiro é percebida como sendo o momento e o lugar onde Deus o atinge. A escuridão iluminou-se por dentro e a noite ficou mais clara que o dia (Sl 139,12). Deus se fez presente na ausência para além de todas as representações e imagens! Escuridão luminosa!
A experiência de Deus na Brisa Leve dá olhos novos e produz uma mudança radical. Elias descobre que não é ele, Elias, que defende a Deus, mas é Deus quem defende a Elias. É a sua conversão e libertação! Reencontrando-se com Deus, encontrou-se consigo mesmo. Descobriu sua vocação lá, onde pensava que Deus não tivesse nada a dizer-lhe! Imediatamente, ele parte para cumprir as ordens de Deus. Uma delas é ungir Eliseu como profeta em seu lugar (1Rs 19,16). Renasce a profecia! A luta pela justiça renasce da experiência da gratuidade.
Hoje acontece o mesmo. Qual o tapa na cara de que nós estamos precisando hoje ou que já estamos recebendo e ainda não percebemos? Quais as idéias erradas de Deus que me impedem hoje de descobrir minha vocação? Vale a pena imitar Elias e tantos outros carmelitas que antes de nós lutaram e venceram. Esta é a nossa vocação!”
Ser carmelita é tudo que eu quero e desejo!
Vamos subir essa Montanha Sagrada atrás de Jesus.
Elias e Maria nos ajudam.
Você topa!

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