terça-feira, 5 de abril de 2011

Ser Carmelita é tudo o que eu quero!

                Entusiasmo que corresponda à realidade dos santos, tudo bem, é uma efusão espontânea de admiração que faz bem ao coração e à fé. A espiritualidade carmelita é um ventre que já deu à luz várias pessoas admiráveis pelo grau máximo de sua fidelidade ao Senhor. A história está aí para comprová-lo a muitos jovens, que procuram seu futuro em mosteiros, conventos e comunidades, em âmbito contemplativo ou em ambiente de vida místico-ativa ou ativo-mística.
                No entusiasmo reside um pouco do sonho que move os corações a voos mais profundos no seguimento dos passos de Jesus. Outras vezes, o que os move mesmo parece ser a fantasia um tanto quanto inocente a respeito do que se acha bonito nos outros, mas não se experimentou na epiderme. Há também aqueles que buscam o passado no presente, como se fosse ótimo repetir as decisões, comportamentos e gestos de personalidades das quais não poderemos ser simplesmente clones. Por mais que se queira ser carmelita, é bom saber que há filtros pelo caminho. Eles podem transformar o entusiasmo em decepção, mudar o caminho em rota desviada, deixar o fervor religioso em nível de desencanto corretivo do emocional. Podem também levar a fazer afirmações que não honrariam nem as figuras do passado, nem os arroubos do presente, nem a verdade de quem já viu e não gostou ou daquele que já viveu e se tornou santo. É bom saber que houve os casos de quem abandonou, mas teve a oportunidade de assegurar-se, no dizer do poeta nacional: “o que dá pra rir, dá pra chorar”, como em todo lugar, como em todas as escolhas da vida; faz parte do comum dos mortais. Em todos os casos, um coração cheio de fé e vontade para servir melhor ao Reino, bem orientado, sempre encontrará razão para afirmar, confiando na palavra de Jesus: “Na casa do meu Pai há muitas moradas. Do contrário, acaso eu vos teria dito que iria preparar-vos o lugar onde ficareis?” (Jo 14,2). E partirá para a descoberta do carisma no qual seu coração livre obterá a afinação de um grande amor.
                Considerada e temperada com um grão de sal a consideração acima, neste biênio vocacional, nossa Província quer fazer alguma coisa que valha a pena. E não há por que ter vergonha de colocar à frente de todos os convites aquele “Venha e beba da fonte” (1 Rs 17,7). Elias foi, bebeu e se tornou, de nome e de fato, o defensor do Deus vivo e verdadeiro, que não admite seus filhos pulando miúdo em duas pernas, quando a fidelidade orante pode divisar ao longe, na nuvenzinha que sobe do mar, a imagem do carmelita — o tudo que um (a) jovem quer ser. Pode chegar, meu irmão. Pode chegar, minha irmã. A fonte é nossa, assim como o petróleo. Nem é preciso decidir-se já por beber da fonte, pois é patrimônio de todos os que se consideram filhos de Deus Pai e irmãos de Jesus e, por isso, desejam ser irmãos de Maria, de Tito Brandsma, de Terezinha da Sagrada Face, de Madalena de Pazzi... São tantos! Passado, presente e futuro se entrelaçam para o (a) receber; e, se acaso não formos muito competentes na acolhida benvinda, eles estão aí, em várias épocas da História, para lhes dar o abraço fraterno de boas-vindas.
                É perfeitamente desejável que ninguém se amarre ao Carmelo, apenas porque deparou com um caminho aberto à frente; as amarras o (a) farão infeliz. Quando alguém disser a si mesmo, ao orientador e ao grupo que “ser carmelita é tudo que eu quero”, o ideal, segundo A. Cencini, ao ficarem as coisas mais claras, é que se perceba a imensa possibilidade de que, em cada etapa, vá amadurecendo sua busca vocacional contida na frase. O clímax ocorrerá na etapa em que a pessoa por inteiro e em conjunto com os irmãos for um hino de louvor e amor a Deus pelo que é e cuja dedicação a Ele é causa da felicidade que impera em seu ser!
Frei Martinho Cortez, 73 anos, carmelita há 55 anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário